Quem construiu o Cassino RJ Niterói? Origens e legado arquitetônico
O Cassino Icaraí, também conhecido como Hotel Balneário Casino Icarahy, foi um dos marcos de maior relevância para a sociabilidade e a arquitetura de Niterói na primeira metade do século XX. Erguido inicialmente em 1916, o edifício passou por transformações ao longo das décadas, refletindo tanto o desenvolvimento urbano da cidade quanto as tendências arquitetônicas de sua época. A seguir, exploramos as origens desse empreendimento, os responsáveis pela sua construção e o legado que deixaram para a paisagem arquitetônica de Niterói. (pombucit.blogspot.com, pt.wikipedia.org)
1. Contexto histórico e surgimento (1916)
Nos anos iniciais do século XX, a região de Icaraí, em Niterói (RJ), ganhava status de zona nobre e turística. Com a inauguração do bondinho que ligava o Centro de Niterói à orla, a demanda por hotéis e espaços de lazer cresceu significativamente. Foi nesse cenário que o empresário e investidor local decidiu construir o Hotel Balneário Casino Icarahy, inaugurado em 1916, tendo à frente o arquiteto austríaco Eugen Urban. Urban já havia se destacado por obras residenciais de estilo eclético na cidade e, ao desenhar o palacete de alvenaria, imprimiu características que mesclavam elementos neoclássicos e vernaculares, adaptados ao clima litorâneo. A proposta era oferecer um ponto de encontro sofisticado, com salas de jogos, caça-níqueis e espaços para dança, atraindo tanto a elite de Niterói quanto visitantes do Rio de Janeiro. (pombucit.blogspot.com, pt.wikipedia.org)
2. Expansão e renovação arquitetônica (1939)
Com o crescimento do turismo e a popularização dos cassinos no Brasil durante a Era Vargas, especialmente nas décadas de 1930, surgiu a necessidade de modernizar o antigo palacete. Em 1939, o prédio original foi demolido para dar lugar a uma nova construção em estilo Art Déco, projeto assinado pelo arquiteto Luiz Fossati. Fossati, reconhecido por sua sensibilidade ao estilo internacional eclético e Art Déco (dominante naquele período), propôs um edifício de 11 pavimentos, com fachada em linhas retas, volumes horizontais bem definidos e frisos geométricos discretos, além de um bloco saliente frontal de um pavimento, que abrigava uma ampla sala de espetáculos. A inserção de grandes janelas de guilhotina e elementos ornamentais de caráter estilizado reforçou a vocação de ícone urbano do Cassino Icaraí. (culturaniteroi.com.br, pt.wikipedia.org)
3. Funcionamento e programação cultural (década de 1940)
Após a reinauguração, o novo Cassino Icaraí tornou-se palco para orquestras regionais e nacionais, bailes de gala e espetáculos teatrais que atraíam plateias de ambas as margens da Baía de Guanabara. Além das salas de jogos, o espaço contava com restaurante, bares temáticos e camarotes voltados para o palco principal, num salão hipostilo cuidadosamente decorado. A atmosfera sofisticada, típica dos cassinos brasileiros da época, refletia a busca por entretenimento de alto nível, combinando música, gastronomia e jogos de azar num mesmo endereço. (grandeniteroi2013.blogspot.com, pt.wikipedia.org)
4. Proibição dos cassinos e transformação do edifício (1946–1967)
Em 30 de junho de 1946, o presidente Eurico Gaspar Dutra assinou o decreto-lei que proibiu o funcionamento de cassinos em todo o território nacional, pondo fim ao ciclo dourado desses estabelecimentos. O Cassino Icaraí, já consolidado como um ponto de referência cultural, teve suas atividades suspensas e, a partir de então, o edifício encontrou novas funções ao longo dos anos seguintes. Em meados da década de 1960, o espaço foi cedido ao governo federal para abrigar a reitoria da Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 1967, após adaptações internas, a edificação foi oficialmente inaugurada como sede da Reitoria, mantendo boa parte de seus aspectos originais de fachada e integração paisagística, mas com modificações no interior para salas administrativas, auditórios e bibliotecas. (grandeniteroi2013.blogspot.com, pt.wikipedia.org)
5. Legado arquitetônico e tombamento municipal
Tombado pela Prefeitura de Niterói em 10 de novembro de 1994 (Lei Municipal n.º 1.330/94), o antigo Cassino Icaraí foi reconhecido como patrimônio cultural e arquitetônico. A edificação exemplifica, de forma singular, a transição do ecletismo para o Art Déco na arquitetura fluminense. Seu volumetrismo, ornamentação simplificada e uso de pilotis e janelas amplas refletem tendências modernistas que se espalharam pelo país nos anos 1930 e 1940. Além disso, o prédio contribuiu para a formação de um corredor arquitetônico ao longo da orla de Icaraí, marcando o crescimento urbano desse bairro como polo intelectual e cultural de Niterói. (culturaniteroi.com.br, pt.wikipedia.org)
6. Importância para a memória urbana de Niterói
Mais do que uma construção, o Cassino Icaraí simboliza o vigor econômico e cultural que a cidade experimentou antes da Segunda Guerra Mundial. A partir do uso institucional como sede da UFF, o edifício manteve-se ativo na cena pública, reunindo estudantes, professores e pesquisadores. Suas linhas art déco – preservadas até hoje – servem como registro de um momento em que Niterói se firmava como contraponto arquitetônico ao Rio de Janeiro, valorizando estilos internacionais adaptados a climas e tradições locais. (pt.wikipedia.org)
7. Conclusão: relevância atual e desafios de preservação
Atualmente, o prédio que abrigou o Cassino Icaraí ainda desempenha papel central na vida acadêmica e cultural de Niterói. Seu estilo arquitetônico, raridade de exemplares Art Déco funcionais na cidade e apropriação pela universidade configuram um caso exemplar de reuso adaptado. Contudo, a manutenção e restauração de fachadas, instalações elétricas e revestimentos internos demandam investimentos contínuos e monitoramento técnico qualificado. O verdadeiro legado do Cassino Icaraí reside na capacidade de conectar gerações: do luxo efervescente dos salões de bailes aos corredores acadêmicos que ainda ecoam diálogos sobre arte, ciência e sociedade. (culturaniteroi.com.br, pt.wikipedia.org)
Ao entendermos quem construiu o Cassino RJ Niterói e como ele evoluiu, percebemos que a obra de Eugen Urban (1916) e a modernização de Luiz Fossati (1939) não foram apenas respostas a demandas de lazer, mas peças fundamentais na construção identitária de Niterói. O resultado é um patrimônio arquitetônico que sobreviveu às proibições e à passagem do tempo, hoje convertido em polo de ensino e pesquisa, mas sem perder seu caráter emblemático para a paisagem urbana fluminense.
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